sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Corre-Corre

antes o pega-pega na 
rua era brincadeira
correndo na ladeira 
o perigo maior 
era o chinelo estourar
capotar e ralar a cara
na frente da barraca de feira

agora embaixo da lupa do sol


pega!
pega!

não te encara

é uma orquestra de gritos 
brancos como lençol
na esquina 
depois que a bicicleta passa 
correndo
rente da calçada
como a rima da linha
e não para
e eu só penso
num cara
de chinelo
descendo uma ladeira
tomara que no meio do caminho
não tenha uma feira

e eu só penso
nesse cara
pega
corre
e não para

pega o pão mirrado da manhã
pega tudo e põe
nas batatas das pernas
e na cara
no vão entre o coração e o pulmão
pega firme no guidão
pega o fígado e a respiração
corre
e não para

passa pelas vozes 
dos avaliadores
avariadas pela avareza 
passa pela esquina da igreja
dos desesperados
esquecidos na sombra
e só convenientemente lembrados
vira na ladeira
do castelo amarelo
e torce pra polícia não te ver
eu torço
me contorço
nessa torre
do avesso
e só penso

corre

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