sábado, 26 de abril de 2014



Uma namorada velha tem aval pra escrever impropérios livremente - aos olhos, os velhos. Silenciosos, imperceptíveis. Simplesmente propósitos irrelevantes.

Uma namorada velha, sentada na poltrona, toma chá. E ouve recorrentemente. Uma namorada velha não serve pro frio no estomago, pro brilho do olho, pra fogos de artificio. Uma namorada velha é composta basicamente por ombros, orelhas e olhar reconfortante. Uma namorada velha é uma coadjuvante num roteiro central de outras paixões, é fio condutor da segurança de voltar, mas não o motor da querença de chegar. Uma namorada velha sabe a hora de calar, sabe a hora de sorrir, sabe a linha do limite e quando não ultrapassar. Uma namorada velha já foi feita pra namorar.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Brega

Brega
é um bife de segunda
batido na tábua com martelo
dentado de madeira
da batata feita palito
do ovo na frigideira
estatelado
com cebola na lágrima alecrim
fritada

é sentimento diário
de um feijão preto
de um arroz branco
com a acidez rancorosa
de uma laranja coadjuvante
mastigada
com a couve verde viva
refogada

é fome fácil
da cachaça com limão
de comer com pão
e dentes
a carne e a pimenta
salada
de um alface verde insosso
temperada

Brega é brigadeiro
queijo com goiabada
o puro creme do milho verde
coco abroba cravo
mexido quente de tacho
Brega é o cotidiano dissonante
de comer sempre a sobremesa antes.

Brega do beijo molhado
do peito rasgado
do gingado de conhaque
debruçado no balcão
Brega do ombro amigo
Brega do deixa disso
Brega da solidão

enquanto a música voa
o Brega se joga no chão.