terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

relatividade

você era o vidro
e eu a areia
da ampulheta deitada

o tempo não ia embora
nem vinha de volta

em volta de mim
o vidro inerte apertava

sábado, 4 de fevereiro de 2017

uma mulher

uma mulher
carrega consigo um segredo

um degredo
numa cela 
solitária

escondido no canto
dos lábios do sorriso
e como um saco de pecados
mal criados
dependurados
das pálpebras
pelas esquinas
de manhã

- Esse ônibus desce a Brigadeiro até o... 683?

no horário de verão
quando a memória 
se dissipa
no sol que desce
as mulheres carregam
seus segredos
à luz do dia
até mais tarde
pelas veias 
da cidade

à noite
colocam seus segredos
pra dormir mais
cedo
e tentam sair
de si

mas os segredos
seguram
sussurram cada segundo
nos copos de bebida
nos salmos do culto
em cada encontro

tropeçam em si
ao sair
e não se livram

na madrugada
retornam
escondidas como o cenário
da cela
uma cena de fundo
na sombra

Retorno.

afago meu segredo
no silêncio do escuro
o degredo
desse caminho
no contorno dos muros
que a sarjeta sugere
já sem medo

No horário de verão
quando amanhece antes do sol
meu segredo acorda
sem despertador
calça suas próprias sandálias
e banha-se sem mim

o segredo está 
pronto para o trabalho
parado na porta
me esperando passar

(25.outubro.16
28.janeiro.17
4fevereiro17)

RÁPIDO

embaixo de todos os sapatos
nas calçadas
entalado nos buracos
das esquinas mais recônditas
no desgaste dos monumentos
pela urina do Centro

RÁPIDO

parem o carro que ruge
contínuo
para que eu possa ouvir o poema
tresloucado
que preciso
sendo decantado
sarjeta abaixo
goela abaixo
aos gritos
surdos

antesquesejairreverssível

porque não é possível
que não haja
uma única mínima linha sensível
escrita nos fios suspensos
que se entranharam
em cima da porta
e da parede

RÁPIDO

reviremos as vias
as vazias
e as não
cada viaduto
e cada conduíte
e duvido
se não se encontre
em movimento
um único lamento
um verso sequer

RÁPIDO

pra que eu veja
a mudança
da cor do ar
quando me anoitece
de azul o tempo se tinge
e nada se distingue desse tom
os prédios no horizonte
se confundem
com a rusga de céu
que a Avenida permite
diluindo a linha do limite
enquanto os pássaros
desavisados
se estatelam sozinhos
no meu breu
espelhado

RÁPIDO