sábado, 4 de fevereiro de 2017

RÁPIDO

embaixo de todos os sapatos
nas calçadas
entalado nos buracos
das esquinas mais recônditas
no desgaste dos monumentos
pela urina do Centro

RÁPIDO

parem o carro que ruge
contínuo
para que eu possa ouvir o poema
tresloucado
que preciso
sendo decantado
sarjeta abaixo
goela abaixo
aos gritos
surdos

antesquesejairreverssível

porque não é possível
que não haja
uma única mínima linha sensível
escrita nos fios suspensos
que se entranharam
em cima da porta
e da parede

RÁPIDO

reviremos as vias
as vazias
e as não
cada viaduto
e cada conduíte
e duvido
se não se encontre
em movimento
um único lamento
um verso sequer

RÁPIDO

pra que eu veja
a mudança
da cor do ar
quando me anoitece
de azul o tempo se tinge
e nada se distingue desse tom
os prédios no horizonte
se confundem
com a rusga de céu
que a Avenida permite
diluindo a linha do limite
enquanto os pássaros
desavisados
se estatelam sozinhos
no meu breu
espelhado

RÁPIDO

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