antes o pega-pega na
rua era brincadeira
correndo na ladeira
o perigo maior
era o chinelo estourar
capotar e ralar a cara
na frente da barraca de feira
agora embaixo da lupa do sol
o
pega!
pega!
não te encara
é uma orquestra de gritos
brancos como lençol
na esquina
depois que a bicicleta passa
correndo
rente da calçada
como a rima da linha
e não para
e eu só penso
num cara
de chinelo
descendo uma ladeira
tomara que no meio do caminho
não tenha uma feira
e eu só penso
nesse cara
pega
corre
e não para
pega o pão mirrado da manhã
pega tudo e põe
nas batatas das pernas
e na cara
no vão entre o coração e o pulmão
pega firme no guidão
pega o fígado e a respiração
corre
e não para
passa pelas vozes
dos avaliadores
avariadas pela avareza
passa pela esquina da igreja
dos desesperados
esquecidos na sombra
e só convenientemente lembrados
vira na ladeira
do castelo amarelo
e torce pra polícia não te ver
eu torço
me contorço
nessa torre
do avesso
e só penso
corre
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