é a a carne exposta em fenda vermelho-cristalina
a ferida vidrada
é uma dor de fundo que não passa nem ultrapassa
o rasgo no corpo
como um olho fora do rosto
o pus começa a crescer nas bordas
quase imperceptível
até que contorna a pálpebra carnosa
como cajal
quando a ferida te olha
é preciso fazer uma escolha
a negação é o mal de uma catarata
uma camada grossa
como uma lágrima
embaixo de uma lente opaca
sem luz
onde antes te olhava um cristalino e vermelho
rombo,
o pus
quando a escolha te olha
é preciso fazer uma ferida
debridar são todos os erres dessa palavra
recortando a carne exposta
como uma navalha
cega ou serrilhada
o grito sai dos ossos do tórax
como uma bolha
sobe até a boca
e encontra os lábios: fechados.
encurralado, evapora até os olhos
pelas fossas nasais
e se precipita em lágrimas
arrancando a grossa
lente
opaca
o ar falta
ânsia
ânsia pela ânsia
que se dilui rosto abaixo
todos os mortos foram arrancados
da fenda dos olhos
daquela ferida
de volta à carne viva
exposta, aberta como uma pálpebra
a carne vive
quando é preciso
a ferida escolhe olhar
o álcool e o óleo
curam o resto
do olho aberto na perna
feridas fecham
as cicatrizes são eternas
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