uma vez
pra que eu esquecesse o que você fez
você me deu uma caneca preta
porque era igual a uma outra
velha
do meu passado
que tinha quebrado
quebrou de novo
no lugar dela
eu me dei de presente
uma caneca transparente
dura lex
resistente
sexta-feira, 2 de novembro de 2018
sexta-feira, 5 de outubro de 2018
mordida
o olhar de uma ferida aberta
é a a carne exposta em fenda vermelho-cristalina
a ferida vidrada
é uma dor de fundo que não passa nem ultrapassa
o rasgo no corpo
como um olho fora do rosto
o pus começa a crescer nas bordas
quase imperceptível
até que contorna a pálpebra carnosa
como cajal
quando a ferida te olha
é preciso fazer uma escolha
a negação é o mal de uma catarata
uma camada grossa
como uma lágrima
embaixo de uma lente opaca
sem luz
onde antes te olhava um cristalino e vermelho
rombo,
o pus
quando a escolha te olha
é preciso fazer uma ferida
debridar são todos os erres dessa palavra
recortando a carne exposta
como uma navalha
cega ou serrilhada
o grito sai dos ossos do tórax
como uma bolha
sobe até a boca
e encontra os lábios: fechados.
encurralado, evapora até os olhos
pelas fossas nasais
e se precipita em lágrimas
arrancando a grossa
lente
opaca
o ar falta
ânsia
ânsia pela ânsia
que se dilui rosto abaixo
todos os mortos foram arrancados
da fenda dos olhos
daquela ferida
de volta à carne viva
exposta, aberta como uma pálpebra
a carne vive
quando é preciso
a ferida escolhe olhar
o álcool e o óleo
curam o resto
do olho aberto na perna
feridas fecham
as cicatrizes são eternas
é a a carne exposta em fenda vermelho-cristalina
a ferida vidrada
é uma dor de fundo que não passa nem ultrapassa
o rasgo no corpo
como um olho fora do rosto
o pus começa a crescer nas bordas
quase imperceptível
até que contorna a pálpebra carnosa
como cajal
quando a ferida te olha
é preciso fazer uma escolha
a negação é o mal de uma catarata
uma camada grossa
como uma lágrima
embaixo de uma lente opaca
sem luz
onde antes te olhava um cristalino e vermelho
rombo,
o pus
quando a escolha te olha
é preciso fazer uma ferida
debridar são todos os erres dessa palavra
recortando a carne exposta
como uma navalha
cega ou serrilhada
o grito sai dos ossos do tórax
como uma bolha
sobe até a boca
e encontra os lábios: fechados.
encurralado, evapora até os olhos
pelas fossas nasais
e se precipita em lágrimas
arrancando a grossa
lente
opaca
o ar falta
ânsia
ânsia pela ânsia
que se dilui rosto abaixo
todos os mortos foram arrancados
da fenda dos olhos
daquela ferida
de volta à carne viva
exposta, aberta como uma pálpebra
a carne vive
quando é preciso
a ferida escolhe olhar
o álcool e o óleo
curam o resto
do olho aberto na perna
feridas fecham
as cicatrizes são eternas
sexta-feira, 31 de agosto de 2018
Corre-Corre
antes o pega-pega na
rua era brincadeira
correndo na ladeira
o perigo maior
era o chinelo estourar
capotar e ralar a cara
na frente da barraca de feira
agora embaixo da lupa do sol
o
pega!
pega!
não te encara
é uma orquestra de gritos
brancos como lençol
na esquina
depois que a bicicleta passa
correndo
rente da calçada
como a rima da linha
e não para
e eu só penso
num cara
de chinelo
descendo uma ladeira
tomara que no meio do caminho
não tenha uma feira
e eu só penso
nesse cara
pega
corre
e não para
pega o pão mirrado da manhã
pega tudo e põe
nas batatas das pernas
e na cara
no vão entre o coração e o pulmão
pega firme no guidão
pega o fígado e a respiração
corre
e não para
passa pelas vozes
dos avaliadores
avariadas pela avareza
passa pela esquina da igreja
dos desesperados
esquecidos na sombra
e só convenientemente lembrados
vira na ladeira
do castelo amarelo
e torce pra polícia não te ver
eu torço
me contorço
nessa torre
do avesso
e só penso
corre
rua era brincadeira
correndo na ladeira
o perigo maior
era o chinelo estourar
capotar e ralar a cara
na frente da barraca de feira
agora embaixo da lupa do sol
o
pega!
pega!
não te encara
é uma orquestra de gritos
brancos como lençol
na esquina
depois que a bicicleta passa
correndo
rente da calçada
como a rima da linha
e não para
e eu só penso
num cara
de chinelo
descendo uma ladeira
tomara que no meio do caminho
não tenha uma feira
e eu só penso
nesse cara
pega
corre
e não para
pega o pão mirrado da manhã
pega tudo e põe
nas batatas das pernas
e na cara
no vão entre o coração e o pulmão
pega firme no guidão
pega o fígado e a respiração
corre
e não para
passa pelas vozes
dos avaliadores
avariadas pela avareza
passa pela esquina da igreja
dos desesperados
esquecidos na sombra
e só convenientemente lembrados
vira na ladeira
do castelo amarelo
e torce pra polícia não te ver
eu torço
me contorço
nessa torre
do avesso
e só penso
corre
sexta-feira, 17 de agosto de 2018
o movimento de união dos opostos gera as dez mil coisas
quando eu te quis
eu disse sim
e você disse não
o seu não quer dizer sim toda vez
que o seu e o meu querem
dizer
não
como assim
agora não
e agora sim?
quando eu te quis
e eu disse não
você disse sim
não me venha com sim
sem querer
e não em seguida
eu disse sim
mas você não
disse sim
não
Diga.
eu disse sim
e você disse não
o seu não quer dizer sim toda vez
que o seu e o meu querem
dizer
não
como assim
agora não
e agora sim?
quando eu te quis
e eu disse não
você disse sim
não me venha com sim
sem querer
e não em seguida
eu disse sim
mas você não
disse sim
não
Diga.
Escorpiana II
eu não gosto das coisas a meio termo
a não ser que seja disfarce
e o meio termo esconda o extremo
só pra estar essa parte
mais longe ainda do centro
sexo é lento ou violento
ou é fundo e me transpassa
ou é atrito sem fim
e me arregaça
o morno, o mole, a preguiça
nessa fenda não tem vaga
nem chegue perto de mim
que meu rio caudaloso
te enferruja
te afoga
e te arrasta
a não ser que seja disfarce
e o meio termo esconda o extremo
só pra estar essa parte
mais longe ainda do centro
sexo é lento ou violento
ou é fundo e me transpassa
ou é atrito sem fim
e me arregaça
o morno, o mole, a preguiça
nessa fenda não tem vaga
nem chegue perto de mim
que meu rio caudaloso
te enferruja
te afoga
e te arrasta
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
Escorpiana I
Gelo não, a Groenlândia inteira não serve pra mensurar como congelam minhas águas duras, nem os vulcões escondidos na dorsal mesoatlântica, fervendo o oceano inteiro por dentro, são tão capazes de se ebulir como eu. Quando líquida, só poderia ser próxima de uma tsunami, que antes recolhe o mar até o horizonte, expondo as fendas e fissuras do assoalho marinho, pra depois ergue-se imperiosa sobre a vida seca e cotidiana, revirando tudo irreversivelmente. E quando o caos parece ter passado, é sob minha superfície que tudo se decompõe. Apodrece. Fede. Deixa de ser o que era pra ser tudo que está no devir. Eu sou a morte e eu sou o que vem antes e depois dela.
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