quarta-feira, 15 de agosto de 2018
Escorpiana I
Gelo não, a Groenlândia inteira não serve pra mensurar como congelam minhas águas duras, nem os vulcões escondidos na dorsal mesoatlântica, fervendo o oceano inteiro por dentro, são tão capazes de se ebulir como eu. Quando líquida, só poderia ser próxima de uma tsunami, que antes recolhe o mar até o horizonte, expondo as fendas e fissuras do assoalho marinho, pra depois ergue-se imperiosa sobre a vida seca e cotidiana, revirando tudo irreversivelmente. E quando o caos parece ter passado, é sob minha superfície que tudo se decompõe. Apodrece. Fede. Deixa de ser o que era pra ser tudo que está no devir. Eu sou a morte e eu sou o que vem antes e depois dela.
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