efeméridades

em tempos áridos
são templos
as casas de galhos
com folhas secas
nas falhas da trama
a taturana quem fez
com cada duas de suas
patinhas

a taturana é fininha
mas não se engana
se confunde
com o fundo
antes que mude
a grama
e a paleta

- Fuja, filha - disse a borboleta.

seja correta
mas não ande
em linha reta
faça seu ninho
seu caminho
sozinha
e longe

costure sua casa
construa suas asas
e se no meio do transe
o espelho te mostrar
num monge
é sonho
não se espante
aguarde
sem aguardente
que o monge foge

e se depois de tudo
a linha aguda
ainda estiver lá
vá
mas contemple
o solo seco
de cima
e descanse

- Voe, filha - disse a borboleta.

três dias antes
de ser guardada
na gaveta

(i)legalidades

com a redução

para três anos

todos os embriões
blastocistos
freeze all

abandonados
podem ser
gentilmente
descartados

- Por favor!

como ensinam
os descarados
do Conselho Federal de Medicina
das Clínicas
dos Juízes

e dos Bancos
inclusive os que guardam células reprodutivas

enquanto

nosso direito ao pleito
ao peito e ao respeito

por qualquer motivo
freeze out
e abandonam

as que miam escondidas

- Por favor!

e, com dor, botam ovos
com as mãos

mínimos
indesejados
solitários
e inclusive proibidos pelas resolutivas

com reclusão
de 1 a 3 anos

ovodoação

reserva
de moedas
redondas
herdadas
ao nascer

- muito prazer!

unidades de
fertilidade

das menores
de 35

no 1º dia
do ciclo

avaliadas
em 20 mil

de forma
anônima

e sem fins
lucrativos

Covardia

uma avestruz
nunca será ema
independente
de quantos poemas

ansiedade II

em mim
há um túbulo
com um êmbolo
de um lado
e do outro lado

também

ambos

empurram 

pro centro

num vão
de fora pra dentro
de dentro pra fora
as 10 mil coisas
todas
num vão

ao mesmo

tempo

entre os êmbolos
do túbulo
o mundo
e eu

auxílio emergencial

os gatos
soltos
no muro
e um frio
no futuro
do fim do mês
quando os prazos acabam
e o arroz

Om

quisera eu
enfim

transformar
em buda
a ombudsman

que existe 
em mim

carnaval

a velha lua 

em virgem

foi além

perdeu o prazo

no prazer

e agora

descabelada

vai fazer

trabalhar fora

por vinte horas

até a próxima

lua nova

a nova lua em virgem

meu coração é como um grande armário

cheio de gavetinhas

pra todo lugar tem mundo

tem lugar pra todo mundo

nas minhas gavetinhas

tem até janelas nelas

pode ficar tranquilo

mas às vezes eu piro

e mudo o rumo de tudo

ou o mundo a minha volta

entorta

e o armário escancara suas portas

jorra com todas as minhas gavetinhas no chão

não é por birra não

e sim explosão

irreversível

meu coração revolto

até quebra as gavetas

mas é no caos que se encontra 

e cria

dos cacos se restaura

e nas gavetas eu reponho

tudo

de

novo

ninguém é simplesmente perfeito

bem feita a frase

com ninguém ao lado
não há estrondo nem desagrado
ninguém é o par emparelhado
sem erro nem raiva
sem 'erre' nenhum
ninguém é uma rima fácil
assim: verso com ar no fim 

ninguém nada nos nossos
sonhos sem se afogar
e felizmente, ninguém é prudente
o suficiente
pra não se afobar

quando a hora chega
e a chaga abre
ninguém acolhe
e deixa jorrar o sangue
ninguém entende
e abandona o bumerangue

ninguém 
dança sempre
sem errar um só pé
da valsa 
- nem você!
sabia?

ninguém é tão perfeito
que ninguém dentro do peito
é quase uma covardia

ninguém é de aço
todo dia

ninguém é tudo
pra alguém que precisa 
de ninguém
aí a sabedoria