aceita o receptáculo
polpudo por natureza
sem reservas
segura o fruto bulboso
que se joga do galho
entumecido e fechado
escondido pelas folhas da floresta
advinha de dentro
o fogo da vida velada
o movimento
lento
que se projeta
do centro
suave e seguro
se oferece até que a fenda se faça turgida
e o ostíolo escancarado
mostre a fome do fruto
encarnado
vê as cascas inchadas
arregaçadas
as carnes entreabertas
o vermelho que se oferece
e o que escorre dulcíssimo
pela fenda
com a língua injetada
que acaricia
abocanhe a carne esfomeada
com a boca, com a bacia,
com o contorno da cara
deixa o cipó se enrolar no pescoço
como a mão espalmada no tronco
fazia, agarrando de baixo
os galhos esticados
e as estípulas arrepiadas
fresquinhas
aceita o desejo do fruto
de ver fundido
seu próprio vermelho
com o da boca faminta
e se delicia
bebe no fim o suco
da polpa que, devorada,
sacia.
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