sábado, 4 de fevereiro de 2017

uma mulher

uma mulher
carrega consigo um segredo

um degredo
numa cela 
solitária

escondido no canto
dos lábios do sorriso
e como um saco de pecados
mal criados
dependurados
das pálpebras
pelas esquinas
de manhã

- Esse ônibus desce a Brigadeiro até o... 683?

no horário de verão
quando a memória 
se dissipa
no sol que desce
as mulheres carregam
seus segredos
à luz do dia
até mais tarde
pelas veias 
da cidade

à noite
colocam seus segredos
pra dormir mais
cedo
e tentam sair
de si

mas os segredos
seguram
sussurram cada segundo
nos copos de bebida
nos salmos do culto
em cada encontro

tropeçam em si
ao sair
e não se livram

na madrugada
retornam
escondidas como o cenário
da cela
uma cena de fundo
na sombra

Retorno.

afago meu segredo
no silêncio do escuro
o degredo
desse caminho
no contorno dos muros
que a sarjeta sugere
já sem medo

No horário de verão
quando amanhece antes do sol
meu segredo acorda
sem despertador
calça suas próprias sandálias
e banha-se sem mim

o segredo está 
pronto para o trabalho
parado na porta
me esperando passar

(25.outubro.16
28.janeiro.17
4fevereiro17)

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